Gente que faz Diferença - Lorival Serafim, "Popota"

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Problema hidráulico? Qual o primeiro nome que lembra? O que seria dos casabranquenses sem o “seu Popota”, ou um de seus pupilos?! Mas antes de ser o nosso “Popota”, o senhor Lorival passou por muitas! Vamos conhecer um pouquinho de sua vida!

Apesar de ter sido registrado no dia 02 de junho, nasceu na Fazenda Brejão, município de Santa Cruz das Palmeiras no dia 29 de abril de 1935, o menino que veio para Casa Branca com apenas três dias, levado para a Fazenda Santa Paulina que era de propriedade de Dr. Renato Paes de Barros, onde seu pai trabalhava como cocheiro.

Segundo filho de dona Lidia Bento Pereira, e do senhor Lázaro Serafim de Andrade, com os irmãos Terezinha, Ademar, Ana Maria e Geni, o menino que recebeu o nome Lorival perdeu o pai estando com 9 anos de idade.

Seu pai queria muito que estudasse e por isso frequentou durante três meses a escola na Fazenda Campo Alegre, que tinha como professora dona Nenê Moffa. Ia à cavalo junto com a irmã mais velha. Foi quando seu pai veio a falecer, aos 41 anos por problemas cardíacos - diziam que sofria da doença de Chagas!

 Sua mãe que na fazenda cuidava da casa e da família, com a morte do pai veio para a cidade com os filhos à procura de emprego. A família chegou aqui em Casa Branca numa carroça de quatro burros, com a mudança que foi depositada ao lado da Igreja do Bairro de São João. Só que não tinha ainda lugar para morar! Os moradores da casa da frente, senhor Juca (que era jardineiro da Prefeitura) e sua esposa dona Lurdes e filhos, acolheram a família e deixaram que morassem no fundo do quintal por mais de 15 dias, oferecendo a eles a casa e também a comida, e disseram que estavam de mudança e aí dona Lidia poderia ficar na casa.

E assim a mãe do menino Lorival arrumou emprego na casa do Dr. Sebastião de Castro e puderam ficar na casa já pagando o aluguel para o proprietário, senhor Gomes, que morava na Fazenda Mato Seco. Só que isso durou pouco. Seu irmão Ademar torceu o pé na jabuticabeira e quebrou. Dessa fratura se originou a osteomielite. Para seu tratamento, só hospital de São Paulo! Dr. Sebastião arrumou o hospital para o tratamento e a casa de um parente, médico em São Paulo, para a mãe do menino Lorival trabalhar;  e lá se foi a família para São Paulo! As meninas já podiam ajudar no serviço da casa e o pequeno ficaria no Hospital da Cruz Vermelha.  O menino Lorival, com apenas 10 anos, ficou sozinho em Casa Branca! Dormiu muitas vezes debaixo da ponte do Espraiado... comia banana dos cachos que ganhava...ou ganhava a comida daquelas boas senhoras pra quem arrumava a cozinha ou limpava o quintal. Lorival viveu, na rua, sem ir à escola, limpando quintais para comer. Ficou alguns anos sem notícias da família! Aos 13 anos, conseguiu emprego como servente de pedreiro na construção do Banco do Estado onde era a “Casa Mista” e começou a trabalhar assim. 

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time do Tiro de Guerra –Turma de 1952:  Em pé - Sargento Bezerra, Sebastião Botelho (goleiro), João Paschoal, Nelson Briola, Mulecão (da Lagoa), Popota, Sérgio Borzani, Dego Brazão (de chapéu). Demais: Laidir, João Vicente, entre outros

Aí chegou a hora de prestar o serviço militar. Foi da turma de 1952. Vasculhou um lixo onde achou um “sapatão” que pintou com tinta preta pra poder se apresentar, porque pra comprar coturno o dinheiro não dava. Teve ótimos companheiros de Tiro de Guerra! Neife de Freitas e João Paschoal, amigos que o ajudavam com a leitura e a escrita! Tinha também o amigo Sérgio Borzani. Com o serviço militar cumprido, pôde arrumar seu primeiro emprego de verdade: entrou para a Companhia Mogiana, aos 02 de abril de 1953. Revezava na turma diurna e noturna como “truqueiro”- cuidava do material rodante do vagão. Batia nas rodas, olhava por baixo, verificava o sistema de freios. Pequenos reparos eram feitos. Revisão feita nos vagões, levava a caderneta para o maquinista assinar. Se tivesse algum vagão com problema grave como roda quebrada, era encostado na linha que chamava “desvio do quebrado”! (Nossa! Quem já assistiu ao filme “Incontrolável” de Tony Scott com Denzel Washington pode ter um esboço da importância deste trabalho, ao ver a história real de um trem desgovernado por falha neste tipo de revisão ). Este era o “início” da vida profissional de Lorival após seus 18 anos! Ganhava um mil cento e cinquenta por mês e teve sua primeira folga no dia 29 de abril, quando contou que era seu aniversário!  Mas Lorival começou a trabalhar aos 9 e não parou mais...

Trabalhando na Mogiana passou por alguns departamentos. Em 1962, quando trabalhava na seção mecânica, foi transferido para o departamento de engenharia civil, na parte hidráulica, onde ficou até se aposentar e continuou trabalhando até hoje, se completando agora 50 anos como encanador!

Casou-se com dona Osnilda, com quem teve os filhos José Rubens, Lorival Filho e Rosemeire, dos quais já tem seis netos (quatro meninas e dois meninos) e cinco bisnetos, dois dos quais moram com a mãe na Inglaterra. Depois se casou com dona Conceição, mãe de suas filhas Vanessa e Lidia Maria já formadas também, mas ainda solteiras. Formou uma linda família!

Quando moço, Lorival também jogou futebol, no Ferroviário (que era comandado por Sebastião Juvenal), no Paulistano, no Pouso Alegre (do Lambari), começando pelo time do Tiro de Guerra, com o Sargento Bezerra.

A família, da qual ficou longe quando menino, o compensou com a união que até hoje mantem. A mãe, dona Lidia já faleceu, mas todos os irmãos são vivos e se reúnem na casa da tia Maria em seus aniversários, que está com mais de 100 anos. Esta é a tia, irmã da mãe, que morava na Fazenda Brejão, dona da casa onde o menino Lorival nasceu!

Lorival poderia ter se tornado um “perdido”! Companhia ruim não lhe faltou na época em que viveu sozinho pela rua! Mas o exemplo e educação que teve em casa até os 10 anos e o trabalho que o mantém até hoje ocupado, não lhe permitiram isso! É um exemplo de vida, com valores que passou à família que formou!

Ah! E por que ninguém o conhece por Lorival?! Isto começou após uma procissão em que seguiram o Padre Donizete de Tambaú até aqui! Além das preces entoadas e imagens veneradas, o séquito do aclamado padre também contou com uma Banda, cujo tocador do bumbo, cansado, derramava seu suor pelas têmporas e pequenas orelhas, lembrando o hipopótamo saindo da água do seriado do Tarzan, na época grande sucesso. Muitos garotos que se divertiram com isso, entre eles Lorival, depois brincavam lembrando do caso do hipopótamo, e lhe repetiam: hipopótamo... popótamo...popota... e ficou. Simples assim!

Este é o senhor POPOTA! Isto é GENTE QUE FAZ DIFERENÇA!





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